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#Humanidades

SER IDOSO EM TEMPOS DE PANDEMIA

18/12/2020

Organizadores: Artur Pereira Costa, Edilza Detmering, Marcia Longhi

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SER IDOSO EM TEMPOS DE PANDEMIA

    Vivemos num país onde, até o momento, mais de 140 mil pessoas já morreram vitimadas pela Covid-19 e pouco mais de 71 %[1]desse contingente é formado por idosos. Quando nos reportamos ao processo de difusão da pandemia no Brasil, fica claro que se logo no início ações efetivas de planejamento  preventivo, proteção e segurança social tivessem sido adotadas, muitas dessas mortes teriam sido evitadas. Na contramão das emergências vislumbradas, o Presidente da República, numa entrevista ao programa de televisão “Brasil Urgente”, fez a seguinte declaração:

“Quem tem abaixo de 40 anos, tem que se preocupar para não transmitir o vírus pros outros. Devemos, sim, cada família cuidar dos mais idosos. Não pode deixar na conta do Estado. Cada família tem que botar o vovô e a vovó lá no canto e é isso.”[2]

     Em um discurso desprovido de empatia e da noção de qual o papel do Estado nas relações de cuidado com os idosos, a fala do Chefe do executivo nos mostra a face de um país que vive letargiado sob uma onda de obscurantismo e intolerância, sem preocupação com a vida humana e desatento aos princípios constitucionais que deveriam reger a sociedade brasileira frente à população idosa. É pertinente destacar, ainda, uma visão romanceada em relação ao lugar dos idosos na nossa sociedade, vendo-os como o “vovô” e a “vovó” que devem ficar estagnados em um cômodo dos seus lares, relegados ao papel “decorativo”  na estrutura familiar.

     A reprodução e a aceitação dessas ideias faz surgir rupturas emocionais, sofrimentos, sensações de desamparo e insegurança e, muitas vezes, desemboca na estigmatização deste grupo etário.

    Tentando entender melhor como a população idosa está enxergando e vivenciando esse momento, nós, do grupo Humanidades, realizamos entrevistas com idosos do Brasil e exterior, questionando-os a respeito de suas impressões sobre esse momento histórico e perguntando sobre suas rotinas atuais e sobre seus desejos num futuro pós pandemia.

      As colocações nos mostram que os idosos são críticos às ações (e falta de ações) do governo, que se percebem de forma bem diferente ao que é posto pelo Chefe do Planalto, que criam estratégias para enfrentar a nova e (esperamos) temporária realidade e que, apesar de tudo, têm esperança num futuro com dias melhores...

Algumas frases dos entrevistados,

“O governo federal vem tendo um péssimo posicionamento no combate a pandemia...Fico bastante preocupado, pela idade que tenho, como também com a minha família. Porém, na mesma medida esperançoso, pois, devemos ter em mente, que tudo vai passar’  

(Idoso, 65 anos, Recife-PE, branco)

“A população desfavorecida está sendo jogada aos leões em detrimento dos lucros desenfreados de uma minoria a fim de preservar seus privilégios (econômico e eleitoral). Um verdadeiro extermínio deliberado.... Desejo que a pós-pandemia torne as pessoas melhores, mais humanizadas, com mais consciência ambiental, menos egoístas, solidárias e empáticas e que no mundo haja menos desigualdade e mais justiça social.”

(Idosa, 61 anos, Recife-PE, branca)

”Aqui (Noruega), estamos observando o desenvolvimento da pandemia de muito perto e estamos prontos para agir sobre quaisquer irregularidades no desenvolvimento.... Eu irei continuar a viver como antes, quero viajar para o exterior.”

(Idoso , 66 anos, kristiansad/Noruega, branco)

“Tocar a vida pra frente....Quero rever meus familiares.”

(Idosa , 86 anos, Tabira-PE, moradora de uma ILPI, branca)

“ Quero que esse vírus vá embora, para que eu tenha a possibilidade de trabalhar.....quero visitar meus filhos.”

(Idoso ,68 anos, Tabira/PE, morador de uma ILPI, branco)

(Você gostaria de falar mais alguma coisa, que considera importante neste momento?)

"Gostaria de agradecer aos cientistas das diversas áreas de atuação, aos profissionais todos da Área de Saúde, aos demais profissionais que estão trabalhando por serem de serviços essenciais, para que possamos estar em casa, aos porteiros e coletores de lixo que são de grande importância para que o vírus

não se propague e aos que fazem o voluntariado levando roupa e alimentos aos asilos, aos mais desvalidos e aos moradores de rua! Sobretudo agradecer a Deus SEMPRE, a cada dia, a cada segundo, pois estamos sempre re-aprendendo ao longo de toda a vida é dizer que nada é por acaso e Deus em Sua Luz e Sabedoria Suprema Sempre Sabe o Que Faz! Talvez, se não fosse a Pandemia o mundo teria em sua quase totalidade uma devastadora guerra mundial que seria muito pior e não haveria, no caso, como nos prevenirmos, nos cuidarmos e fazermos nossa parte! Abraços a todos e espero ter ajudado e correspondido à pesquisa!"

(Idoso, 72 anos, João Pessoa, negro)

 

(sobre a rotina) "No início foi um pouco difícil, mas com o tempo fui me organizando; hoje tenho tudo organizado: hora de acordar, de tomar o remédio, de trabalhar"

"Só saio mesmo para fazer o necessário, mas mesmo assim escondida, porque os filhos ficam em cima. Mas só para resolver coisas necessárias, ir ao banco,farmácia, trabalhando, eu estou em casa..."

(sobre o isolamento) "no início foi muito difícil, tive muito medo; ter que ficar longe da família, dos amigos, para preservar algo maior, que é a saúde; mas agora está sendo uma tranquilidade, porque você faz o que quer dentro de casa; neste momento eu sou dona de mim mesma, eu faço o que eu quero"

(sobre ser idosa)"O idoso está mais preparado, está mais consciente; hoje o idoso tem mais informações, o idoso está mais sabido do que o idoso de antigamente; hoje ninguém passa a frente do idoso."

(idosa, 76 anos, RJ, parda)

"Pontos positivos? que as pessoas tem que se cuidar mais, ser mais higiênico, despertar mais a solidariedade (...) Pontos negativos? A perda de vidas, as pessoas que no início do ano estavam com suas famílias, a partir de março teve toda esta reviravolta...você ficou sem perspectiva, sem planejamento...não é fácil perder entes queridos...A pandemia vai passar, mas a perda não vai passar.."

(C., negro,J P,  67 anos)

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICAS

BOFF,Leonardo.  Saber Cuidar -Ética do Humano- Compaixão pela Terra. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1999.

BRASIL.Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 01/07/2020.

[1] Segundo Boletim do Ministério da Saúde de 01/07/2020.

[2]Trecho da entrevista dada pelo Presidente da Republica ao Jornalista José Luiz Datena, no programa deTV “Brasil Urgente” em 08/04/2020.

Se interessou? Então dá uma olhada nas outras entrevistas aqui mesmo no nosso site: observantropologia.com/narrativas.

Equipe que compõe o Grupo de Estudos HumanIdades:

 

EQUIPE DISCENTE:

Artur Pereira Costa

Christina Gladys Mingareli Nogueira

Drielly Duarte

Edilza Detmering

Ieda Maria Cordeiro Moura

Layza Bandeira

Luana Genoud

Marcia Longhi

Paula Marcelino

 

EQUIPE DOCENTE

Elaine Müller

Marcia Longhi

 

REVISÃO GERAL:

Edilza Detmering

Marcia Longhi

 

Arte: João Paulo Isnard

Desenhos: João Vitor Velame

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