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#Humanidades

Ser criança em tempos de pandemia: entre brincadeiras, cuidados e saudades

09/12/2020

Organizadoras: Christina Gladys de Mingareli Nogueira e Ieda Maria Cordeiro Moura

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Ser criança em tempos de pandemia: entre brincadeiras, cuidados e saudades

 

       O contexto pandêmico vivido a partir do fenômeno Covid-19 impôs mudanças ao nosso cotidiano. A necessidade de isolamento social como uma ação para manutenção da vida nos levou à suspensão de diversas atividades presenciais; a mudanças nas formas como demonstramos a afetividade, o carinho, comumente expressos através de contato físico, toque, abraço, carícia; à utilização de equipamentos de autocuidado como máscaras, álcool, entre outros.  Os rebatimentos desse cenário caótico na vida dos sujeitos, as possibilidades e formas de enfrentamento dessa situação são vividos diferentemente pelos diversos grupos em suas singularidades. As crianças não estão excluídas desse processo. Seus sentimentos, emoções, percepções, ações de cuidado no enfrentamento ao coronavírus são aspectos importantes a serem observados. As crianças, nesse sentido, são capazes de se apropriar desse universo no qual estão inseridas, atribuindo-lhe um novo sentido, uma vez que, se comparada ao adulto, “a criança não sabe menos, sabe outra coisa” (COHN, 2005, p. 33).

       A partir de uma pesquisa virtual, em que se utilizou como suporte tecnológico o celular através de aplicativo de mensagens instantâneas (WhatsApp), foram realizadas chamadas de vídeos e/ou áudios, tornando possível o contato e a realização de entrevistas. As perguntas foram previamente pensadas pelo grupo de pesquisadoras, sob a orientação de docentes do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPB. Durante os meses de abril a junho, foram entrevistadas 9 crianças, com idade entre 3 e 12 anos, moradoras do nordeste brasileiro, sendo 4 do sexo masculino e 5 do sexo feminino. De acordo com o “Estatuto da Criança e do Adolescente”, considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos (BRASIL,2006). Apesar de pensarmos a infância e as definições sobre “o ser criança” como algo plural e variado (PIRES, 2008), para esta pesquisa estamos usando como definidor o marcador legal. 

          Buscando respeitar os critérios éticos de uma pesquisa, principalmente com crianças (sujeitos legalmente tutelados), informamos aos responsáveis legais sobre os objetivos da pesquisa e solicitamos que autorizassem a realização de entrevistas. As crianças foram também consultadas e oralmente nos deram autorização para o estudo. Explicamos sobre os critérios de sigilo das informações em que somente letras para identificação e suas idades seriam expostas, resguardando-se seus nomes e suas imagens.

“(...) a criança pode produzir discursos sobre si mesma, sobre os outros e sobre eventos, de forma que possa existir a partir de seu próprio discurso, de sua maneira própria de ver e pensar” (FRANCISCHINI; CAMPOS, 2008, p.108), basta estarmos atentos aos seus conhecimentos e pontos de vista.  Foi o que buscamos fazer, e apresentaremos o resultado a seguir.

Agora é com elas: AS CRIANÇAS.

 

O que é para uma criança vivenciar uma “quarentena”?

 

“Ser criança é ficar irritada de estar dentro de casa sem poder sair, a gente logo se estressa.”

(K, 10 anos, sexo feminino, parda)

 

“Ser criança na quarentena é muito chato. A pessoa não tem nada pra fazer, só brinca, assiste..., mas, tem coisas legais também como brincar com os pais, pular na cama, ligar para as pessoas e elas ficam logo animadas. Que bom que existe telefone!”

(I, 6 anos, sexo feminino, parda)

 

“Ser criança é um pouco chato, não gosto de ficar em casa, a gente só fica no celular e na televisão. Quando tinha escola, as crianças queriam ficar em casa, agora ficam tudo querendo sair de casa e ao shopping, tomar um ar.”

(A, 9 anos, sexo feminino,)

 

Aspectos positivos também aparecem.

 

“Ser criança na quarentena...eu acho legal. A gente tá brincando mais e fica mais perto da família.”

(J, 11 anos, sexo masculino, branco)

 

“Gosto de ser criança na quarentena.”

(D, 5 anos, sexo masculino, branco)

 

“É ficar na casa com a mãe brincando, êêêêê!”

(M, 3 anos, sexo feminino, branca)

 

 

As crianças cuidam e são cuidadas. Sobre o tema, elas nos dizem:

 

“Eu cuido muito das pessoas. Falo: usem a máscara! Usem álcool em gel! Porque senão falar, as pessoas não se tocam que tem o coronavírus.”

(A, 9 anos, sexo feminino, branca)

 

“Eu me preocupo. Se sairmos de casa nesses dias a gente pode morrer”

“Precisamos nos cuidar, usar máscara, lavar as mãos e usar álcool em gel.”

 (MC, 10 anos, sexo feminino, parda)

“Cuidar é ter responsabilidade, ser maduro, pandemia é coisa grande.”

(J, 11 anos, Sexo masculino)

 

A falta do contato físico, de estar próximo, das brincadeiras entre as pessoas queridas, são aspectos que apontam em suas falas. 

 

“Sinto falta da escola porque fico longe das minhas amigas. Sinto falta de brincar e tenho saudades do resto da minha família.”

(MC, 10 anos, sexo feminino)

 

“Muita saudade das amigas e da professora.”

 (I, 6 anos, sexo feminino)

 

“Meus pais tiveram Covid e senti muita falta de poder abraçá-los.” (A, 9 anos, sexo feminino)

 

 “Sinto saudades das minhas amizades e da escola. Nunca pensei que sentiria saudade da escola. Na escola, tenho minhas amigas e me sinto confortável. Elas são como irmãs pra mim.”

(K, 10 anos, sexo feminino)

 

 “Quando acabar essa quarentena, quero sair de casa, ir à casa da minha avó ver meu avô.”

(D,5 anos, sexo masculino)

 

“Quero voltar à vida normal: ir à casa da minha avó, e minha mãe voltar a trabalhar.”

 (I, 8 anos, sexo masculino, branco)

 

“Sabe o que eu queria fazer? Fazer corrida na garagem, tomar banho de mar. Antes, eu podia ir pra casa de duas avós, agora eu não posso.”

 (G, 5 anos, sexo masculino, branco)

 

E por fim, J. de 11 anos, nos alerta sobre o pós-pandemia.

 

“Acho que quando acabar a pandemia, as pessoas vão ficar com a mente abalada.”

(J, 11 anos, sexo masculino)

 

 

Referências

 

BRASIL. Estatuto da CRIANÇA e do ADOLESCENTE. 3. Ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.

 

COHN, Clarice. Antropologia da Criança. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

 

FRANCISCHINI, Rosângela; CAMPOS, Herculano Ricardo. Crianças e Infâncias, sujeitos de investigação: bases teórico-metodológicas. São Paulo: Cortez, 2008.

 

PIRES, Flávia. Pesquisando crianças e infância: abordagens teóricas para o estudo das (e com as) crianças. Cadernos de Campo (São Paulo, 1991), v. 17, n. 17, p. 133-151, 2008.

Se interessou? Então continue nos acompanhando que toda semana iremos publicar um texto por aqui em nosso site produzido pelo Grupo de Estudos HumanIdades.

Equipe que compõe o Grupo de Estudos HumanIdades:

 

EQUIPE DISCENTE:

Artur Pereira Costa

Christina Gladys Mingareli Nogueira

Drielly Duarte

Edilza Detmering

Ieda Maria Cordeiro Moura

Layza Bandeira

Luana Genoud

Marcia Longhi

Paula Marcelino

 

EQUIPE DOCENTE

Elaine Müller

Marcia Longhi

 

REVISÃO GERAL:

Edilza Detmering

Marcia Longhi

 

Arte: João Paulo Isnard

Desenhos: João Vitor Velame

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