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A ADULTEZ NA PANDEMIA: “SER ADULTO É TER RESPONSABILIDADE...”
17/12/2020
Organizadoras: Elaine Müller, Marcia Longhi.
A ADULTEZ NA PANDEMIA: “SER ADULTO É TER RESPONSABILIDADE...”
A adultez não é uma categoria etária problematizada. Por sinal, as entrevistas realizadas em nossa pesquisa com pessoas adultas nos fizeram pensar que, aparentemente, ser adulto quase se define por ser o grupo que deve ‘resolver problemas’. As palavras-chave das verbalizações foram “trabalho”, “maturidade”, “responsabilidade” e “autonomia”, e no caso das mulheres, “filhos”.
Foram entrevistadas 17 pessoas na faixa etária entre 29 e 59 anos, sendo 8 mulheres e 9 homens. Do total, 9 moram com a família e têm filhos, 6 moram sozinhas e 2 moram ou com a família ou com o namorado/namorada, mas não têm filhos.
Se nós estamos falando de um grupo que não é pensado a partir da perspectiva geracional, podemos afirmar que é o grupo que ganha destaque quando as categorias são trabalho, cuidado, criação de filhos, economia. Nestes tempos de pandemia, são predominantemente as pessoas deste grupo que estão: nos serviços de saúde ocupando as mais variadas funções; dando aulas virtuais; saindo às ruas para tomar o transporte coletivo e poder trabalhar para sustentar a família; ou estão em casa, cuidando das crianças, de idosos debilitados; ou mesmo, tentando criar uma nova fonte de renda após terem sido demitidas. De tudo isso, nossas entrevistadas e nossos entrevistados falaram. Mas também falaram de desigualdades sociais, negligência do poder público e necessidade de cada pessoa ser solidária.
É importante dizer que as narrativas ganharam contornos próprios quando a interlocutora era mulher e mãe. A totalidade das entrevistadas que se encaixam neste perfil centraram suas respostas na preocupação com os filhos. Muitas vezes, se cobravam por não estarem podendo ter o desempenho que almejavam. Falaram das dificuldades com relação ao ensino remoto, das frustrações por não poderem propiciar aos filhos situações de prazer e alegria, como levá-los na casa das avós ou à praia; também se culparam pelo pouco tempo que tinham disponível para os filhos, devido ao trabalho remoto. Podemos dizer que as falas giraram ao redor dos ‘cuidados’, dos filhos e também das outras pessoas. Os homens entrevistados, por sua vez, também falaram de suas preocupações, mas as categorias que ganharam destaque foram ‘responsabilidade’ e ‘manutenção econômica’. O que não quer dizer que eles não participem da rotina doméstica, mas seus discursos estavam mais centrados na vida profissional. Contudo, tanto homens como mulheres expressaram, enquanto cidadãos e cidadãs, preocupações com a vida em sociedade, desejando que esta seja mais solidária. Também não faltaram críticas à gestão do Governo Federal nesta pandemia.
Separamos algumas frases que pareceram representativas das ideias principais das entrevistas...
Então, vamos lá...
“A maior dificuldade de todas, para minha rotina como mãe, é a parte escolar da minha filha e o receio dos traumas que isso pode gerar para ela; como será isso no pós-pandemia; mas tentamos ver qual a melhor forma de dar leveza...”
(R.; mulher, branca, 38 anos)
“Com relação ao isolamento social, devido minha idade, acho que há a sensação de que estou ‘perdendo tempo’, em especial pelos hábitos sociais que envolvem estar fora de casa; meu trabalho é na rua...”
(S.; homem, branco, 31 anos)
“Período de férias coletivas, entrei numa tristeza profunda; fiz uso de álcool e nicotina, para poder suportar este período; depois, as coisas começaram a se normalizar; organizei a rotina; Minha geração é a geração do caos... pra mim, ser na quarentena é ser consciente dos meus limites, dos limites do meu corpo, dos limites da estrutura ao meu redor e me posicionar civil e politicamente, é ter maturidade... acordar todos os dias já é lutar... (...) atualmente, faço atendimentos online com uma cota de atendimentos gratuitos, e mudei minha relação com o consumo e com a alimentação; tenho comprado de produtores locais...”
(R, mulher, negra, 31 anos)
“Estava trabalhando e me desempreguei... tinha comprado um carro e coloquei no aplicativo; precisava me proteger e precisava ficar em casa e daí para me manter, comecei a fazer a sopa e estou me mantendo com ela; comecei a vender, através do boca a boca, começou a vender bastante; é uma sopa diferente, dá vitalidade; o nome é ‘sopa da vitalidade’; eu inventei a sopa por causa das pessoas amigas que estavam com Covid; eu levava para as amigas e elas melhoravam... daí comecei a vender...”
( mulher, negra, 51 anos)
“Minha situação é muito privilegiada, eu sei disso. A condição de professor federal é bastante confortável, mas eu penso no aspecto social. O mundo todo está passando por isso, mas no Brasil é pior por causa da desigualdade. Muita gente que eu conheço está desempregada.
" (...) Eu não tenho problema de ficar em casa, sou bem sossegado, mas estou preocupado com a alfabetização da minha filha menor. Precisamos contratar uma professora particular; mas não vou deixar minha filha voltar às aulas; eu e minha mulher somos grupo de risco. Não vamos nos expor...”
( homem, 49 anos)
REFERÊNCIAS:
Sousa, Filomena. O que é ser adulto? A sociologia da adultez; 2010, Porto; Memória Imaterial
Müller, Elaine. REPENSANDO A PROBLEMÁTICA DA TRANSIÇÃO À ADULTEZ: Contribuições para uma Antropologia das Idades; POLÍTICA & TRABALHO Revista de Ciências Sociais n. 31 Setembro de 2009 - p. 107-125
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REVISÃO GERAL:
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Arte: João Paulo Isnard
Desenhos: João Vitor Velame