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#Humanidades

Viver a adolescência em tempos de quarentena:

tédio, mudança de rotina, redes sociais e falta de amigos

11/12/2020

Organizadoras: Christina Gladys Nogueira, Luana Genoud,  Paula Marcelino

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Viver a adolescência em tempos de quarentena: tédio, mudança de rotina, redes sociais e falta de amigos

       Estamos vivenciando um ‘novo normal’. A pandemia de Covid-19 atravessou nossas relações sociais, políticas e econômicas e impôs uma nova ordem a nível mundial, obrigando as pessoas a se adequarem aos novos enquadramentos. As redes sociais passam, agora, a ser a ponte de todas as nossas interações. Cada grupo social, no entanto, vivencia estas mudanças de forma diferente, seja quanto a gênero, classe social, raça ou geração. É nesta última que vamos focar, especificamente, sobre os/as adolescentes.

            O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 1990, define a adolescência como a faixa etária de 12 a 18 anos de idade. Para além dessa demarcação legal, a adolescência é, principalmente, um momento fugaz entre a infância e a juventude, marcado por transformações hormonais e revoluções internas, poeticamente traduzido por Octávio Paz ... “O adolescente, vacilando entre a infância e a juventude, fica suspenso por um momento diante da infinita riqueza do mundo” (...) “O adolescente se assombra de ser.”[1]

          As falas de seis adolescentes residentes em estados do Nordeste apontam para uma grande insatisfação com a drástica mudança de suas rotinas, a saudade dos amigos e o excesso de contato pela via tecnológica, causando, inclusive, insatisfação com a falta de contato físico. O grupo, que devido à sua geração tem uma maior familiaridade com a tecnologia e faz desta uma parte essencial da rotina através de redes sociais, demonstrou, pelo que foi observado nas entrevistas, desagrado com a restrição de sua sociabilidade ao meio virtual e com sua nova rotina em meio à pandemia. Desta forma, pareceu difícil para os/as adolescentes entrevistados/as se reinventarem e/ou se adaptarem a esta nova situação. Ficar em casa, conviver mais dentro do lar, se abster da relação com seus iguais é uma barreira que perpassa a sua vivência no ‘novo normal’.

 

            Com a palavra, as/os adolescentes...

“Durante a quarentena eu passei a acordar tarde e dormir tarde. Eu tô achando estranho, porque antes, a gente acordava cedo pra ir pra escola, ver os amigos. E agora, a gente tem que fazer tudo pelo celular. Tem que estudar pelo celular, conversar pelo celular... não pode nem sair de casa pra olhar a rua. Eu tô fazendo o nono ano do ensino fundamental e, basicamente, esse é o último ano que eu vou ver alguns dos meus amigos. Eu tô achando bem chato isso porque ano que vem, todo mundo vai se separar, eu não vou ver mais meus amigos. E estudar online também é muito chato.”

                                                      (K., homem,14 anos, pardo)

 

“A minha rotina tem sido comer, dormir e chorar. Pra mim, ser adolescente na quarentena é ficar doido da cabeça! Eu sinto mais falta de sair com meus amigos. Quando terminar a quarentena, eu vou sair mais com meus amigos.”

                                                      (V., mulher,14 anos, branca)

 

“Minha rotina na quarentena é basicamente sentar e ficar olhando o computador. Estudando pra escola, estudando pro ENEM. Ser adolescente na quarentena pra mim tá sendo basicamente estudar. A questão da diversão com os amigos tá sendo totalmente remota. O que eu mais sinto falta, por incrível que pareça, tá sendo andar de ônibus e ir à praia. E com toda certeza, quando acabar a quarentena, estarei indo pra praia de ônibus. Mas não é hora de flexibilizar, que o vírus ainda tá aí.”

                                                       (J., mulher,17 anos, branca)

 

“Ser adolescente nessa quarentena é um pouco chato, mas pelo menos tem as aulas online e posso conversar com meus amigos. O legal é ter meus pais mais tempo em casa.”

                                                       (Adolescente, homem, 13 anos, branco)

 

“Pra mim, ser adolescente na quarentena é ruim. Pode não ser tão ruim para os mais novos. O que varia mesmo é a condição financeira e psicológica de cada um. Tem algumas políticas boas que estão ocorrendo, mas a maioria tá indo contra as orientações da OMS... no caso, é sair abrindo tudo, falar como se não devêssemos usar máscara mais, como se tudo devesse voltar à normalidade, mesmo que o número de casos só continue crescendo em ritmo alarmante.”

                                                       (S., homem, 17 anos, preto)

 

“Minha rotina é estudar após o almoço, depois procuro jogar games no celular, janto... e como tá nessa pandemia, né, acaba que o fuso do sono não fica normal. A gente dormia mais cedo e agora dorme mais tarde. Fico até tarde no telefone. Pra mim, ser adolescente durante o período da quarentena é bem complicado. A gente é acostumado a sair, a ir pra casa de amigos... cada um com seus compromissos, escola, etc. Então é difícil estar preso dentro de casa.”

                                                       (M., homem, 14 anos, pardo)

 

REFERÊNCIAS:

Le Breton, David; La edad solitaria: Adolescencia y sufrimiento. 2012, 1ª ed. Santiago: LOM ediciones; Colección Ciências Humanas

BRASIL. Estatuto da CRIANÇA e do ADOLESCENTE. 3. Ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006

[1] Trechos do poema El laberinto de la soledad de Octavio Paz, em tradução livre pelas autoras.

Se interessou? Então continue nos acompanhando que toda semana iremos publicar um texto por aqui em nosso site produzido pelo Grupo de Estudos HumanIdades.

Equipe que compõe o Grupo de Estudos HumanIdades:

 

EQUIPE DISCENTE:

Artur Pereira Costa

Christina Gladys Mingareli Nogueira

Drielly Duarte

Edilza Detmering

Ieda Maria Cordeiro Moura

Layza Bandeira

Luana Genoud

Marcia Longhi

Paula Marcelino

 

EQUIPE DOCENTE

Elaine Müller

Marcia Longhi

 

REVISÃO GERAL:

Edilza Detmering

Marcia Longhi

 

Arte: João Paulo Isnard

Desenhos: João Vitor Velame

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