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Comunidade Fonseca

7 junho 2021

Fonseca é uma comunidade quilombola localizada no sertão paraibano, no município de Manaíra, que dista quase 500 quilômetros da capital João Pessoa. Segundo dados do Incra de 2020, conta com cerca de 49 famílias. Em pesquisa realizada por Magrin (2015) sobre a história da comunidade, contada pelos seus antigos moradores, em especial seu líder comunitário, o Sr. Luis José dos Santos, a comunidade foi inicialmente habitada por indígenas nas primeiras décadas do século XX. 


O local era chefiado pelos indígenas Tapuia, Pedreira, Queimadas e Fonseca, que foi o primeiro a construir uma moradia no local e que por isso passou a ser conhecida pelo seu nome.

Fonseca teve indígenas como seus primeiros habitantes, mas que não perduraram por muito tempo por causa de um ataque de homens a mando de um fazendeiro local, Major Loureiro, contra as lideranças. Um novo ataque aos indígenas aconteceu pelas mãos dos cangaceiros sob a liderança de Lampião, o que acabou por dizimar os indígenas que ali moravam.


Segundo a história oral da comunidade, outras pessoas viveram ali, que também passou anos desabitada, mas uma história foi marcante. Em 1958 dois casais se mudaram e passaram a viver em Fonseca, no ano de 1965, após os casais buscarem um homem negro chamado Eugênio, que havia sido escravizado em Serra do Triunfo/Pernambuco, para também o escravizar onde moravam. No ano de 1966 Eugênio foge de Fonseca com sua mulher, com isso seus senhores conseguiram capturar ambos e voltaram a escravizá-lo, após anos nessa situação submetido também a torturas, alguns moradores locais passaram a reivindicar sua libertação que só aconteceu na década de 1970.


A história de Eugênio marcou a comunidade, que foi palco de muitos conflitos e que já teve habitantes de diferentes grupos étnicos. Em agosto de 2007 foi criada uma pequena associação para os pequenos produtores locais, em 2007 também foi o ano em que a comunidade conquistou o reconhecimento como comunidade quilombola dada pela Fundação Palmares. O processo de regularização fundiária iniciou no Incra em 2009 e em 2018 foi publicado seu Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), passo importante para a garantia de suas terras.


A comunidade mantém sua forte cultura, desenvolvem trabalhos artesanais com obras de barro onde algumas mulheres produzem panelas, jarros, filtros e outros itens e também trabalhos com gesso na produção de itens religiosos. Algumas famílias da comunidade são chefiadas por mulheres em razão da migração temporariamente para São Paulo dos homens, chefes de família, para trabalhos nas lavouras de laranja e café.


Na culinária são marcantes doces produzidos a partir de diferentes frutas, tapioca e outras comidas típicas como baião de dois e angu de milho. Na música há um grupo informal de forró que realiza apresentações nos festejos locais, sendo um deles o dia 22 de novembro, quando é comemorado o Dia da Consciência Negra, que a comunidade festeja ativamente, e que também é feriado municipal em Manaíra, dada a importância da data.


A história de Fonseca é marcada por conflitos, mas também por muita resistência. Com localização de difícil acesso, enfrentam diretamente a seca, dado seu estágio avançado de desertificação, como também pela omissão dos governos em prover água para a população da comunidade. Alguns moradores necessitam migrar para trabalhar sazonalmente fora do município. Seus cidadãos são marcados pela discriminação e desigualdade mas também pela força e esperança.

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